Este segundo depoimento é de meu grande amigo Felipe, que agradeço sempre pelo apoio e incentivo em lutarmos pelo combate à homofobia.
Surgiu de nossas conversas a ideia de projetos, palestras, este blog e grupos para que homossexuais, suas famílias e amigos pudessem tirar suas dúvidas e entender que homossexualidade não é doença e que respeito é fundamental.
FELIPE BRANDT
Ser homossexual é travar 4 lutas: a
primeira é contra a sociedade, e é com os colegas de classe que tomamos por
base como é a mentalidade do nosso meio, afinal filhos são um reflexo dos pais,
é bem provável que seus colegas descubram que você é gay antes de você mesmo. A
segunda luta é contra Deus, melhor, contra a imagem dos homens que falam em
nome dele. A terceira é contra si, a aceitação. E a quarta é com a visão da
família.
No início já passei por todos
aqueles adjetivos pejorativos imagináveis e raras vezes me deixei abalar, pois
o pensamento que vinha a minha cabeça eram sempre os mesmos: onde exatamente eu
ser homossexual vai interferir na vida de outra pessoa que não seja também
homossexual? Mas a que mais me divertia era: por que essa pessoa se preocupa
tanto com o fato de eu ser ou não gay?
Felizmente não houve restrições em
minha família, o maior medo deles sempre foi o que eu poderia enfrentar fora de
casa, mas isso eu acho que é uma preocupação que todos os pais carregam. Mas
pior são os que deixam de viver plenamente, abrindo mão de uma família, filhos,
e passam a criar personagens, viver uma vida dupla e desgastante por medo da
sociedade.
Falei com uma amiga minha esses
tempos e ela, imagino eu, na casa dos 65 anos, disse que ia viajar e aproveitar
mais porque tinha no máximo ainda 15 ou 19 anos e desses uns 10 com relativa
qualidade de vida, isso segundo a expectativa de vida. Aquilo me fez pensar e
me arrepender dos 2 anos que eu não fui honesto comigo e com parte do que eu
sou, porque ser homossexual não te define por completo, é uma milésima parte de
tudo que você é e que completa o teu caráter.
Penso que a única coisa que falta
para cessar com a homofobia é um acesso maior a informação e a desmistificação
desse assunto que nasceu junto com a humanidade, afinal a homossexualidade é
uma das manifestações da sexualidade humana e nada mais.
- Qual
a importância de um trabalho de conscientização contra o bullying homofóbico
nas escolas e sociedade em geral?
Acho importante o trabalho de
conscientização do bullying como um todo, pois o respeito com o próximo diante
de qualquer diferença é básico. Mas se formos pensar no Bullying homofóbico,
temos um precedente que o torna de certo relevante. A criança ou o adolescente
nessa época está começando a solidificar seu caráter e ainda está aceitando
certos pontos da sua sexualidade, e esse é um assunto que ainda é tratado com
certo desconforto, por mais avançada que pareça ser nossa sociedade.
Sendo que o adolescente com medo da
reação dos pais ou da reprovação dos amigos, acaba por não ter a quem recorrer,
e nos casos mais graves vemos pessoas que dão um fim em suas próprias vidas.