segunda-feira, 14 de julho de 2014

SER HOMOSSEXUAL É TRAVAR 4 LUTAS...



Este segundo depoimento é de meu grande amigo Felipe, que agradeço sempre pelo apoio e incentivo em lutarmos pelo combate à homofobia.   
Surgiu de nossas conversas a ideia de projetos, palestras, este blog e grupos para que homossexuais, suas famílias e amigos pudessem tirar suas dúvidas e entender que homossexualidade não é doença e que respeito é fundamental.

FELIPE BRANDT 

        Ser homossexual é travar 4 lutas: a primeira é contra a sociedade, e é com os colegas de classe que tomamos por base como é a mentalidade do nosso meio, afinal filhos são um reflexo dos pais, é bem provável que seus colegas descubram que você é gay antes de você mesmo. A segunda luta é contra Deus, melhor, contra a imagem dos homens que falam em nome dele. A terceira é contra si, a aceitação. E a quarta é com a visão da família.
        No início já passei por todos aqueles adjetivos pejorativos imagináveis e raras vezes me deixei abalar, pois o pensamento que vinha a minha cabeça eram sempre os mesmos: onde exatamente eu ser homossexual vai interferir na vida de outra pessoa que não seja também homossexual? Mas a que mais me divertia era: por que essa pessoa se preocupa tanto com o fato de eu ser ou não gay?
      Felizmente não houve restrições em minha família, o maior medo deles sempre foi o que eu poderia enfrentar fora de casa, mas isso eu acho que é uma preocupação que todos os pais carregam. Mas pior são os que deixam de viver plenamente, abrindo mão de uma família, filhos, e passam a criar personagens, viver uma vida dupla e desgastante por medo da sociedade.
      Falei com uma amiga minha esses tempos e ela, imagino eu, na casa dos 65 anos, disse que ia viajar e aproveitar mais porque tinha no máximo ainda 15 ou 19 anos e desses uns 10 com relativa qualidade de vida, isso segundo a expectativa de vida. Aquilo me fez pensar e me arrepender dos 2 anos que eu não fui honesto comigo e com parte do que eu sou, porque ser homossexual não te define por completo, é uma milésima parte de tudo que você é e que completa o teu caráter.
       Penso que a única coisa que falta para cessar com a homofobia é um acesso maior a informação e a desmistificação desse assunto que nasceu junto com a humanidade, afinal a homossexualidade é uma das manifestações da sexualidade humana e nada mais.

- Qual a importância de um trabalho de conscientização contra o bullying homofóbico nas escolas e sociedade em geral?
      Acho importante o trabalho de conscientização do bullying como um todo, pois o respeito com o próximo diante de qualquer diferença é básico. Mas se formos pensar no Bullying homofóbico, temos um precedente que o torna de certo relevante. A criança ou o adolescente nessa época está começando a solidificar seu caráter e ainda está aceitando certos pontos da sua sexualidade, e esse é um assunto que ainda é tratado com certo desconforto, por mais avançada que pareça ser nossa sociedade.
    Sendo que o adolescente com medo da reação dos pais ou da reprovação dos amigos, acaba por não ter a quem recorrer, e nos casos mais graves vemos pessoas que dão um fim em suas próprias vidas.

domingo, 6 de julho de 2014

VAMOS JUNTOS LUTAR CONTRA A HOMOFOBIA!!!!

No artigo anterior, compartilhei a matéria que realizamos em Carazinho/RS sobre o Dia de Combate à Homofobia.

São depoimentos emocionantes, que por falta de espaço tiveram que ser reduzidos. Sendo assim, publicarei diariamente, os depoimentos na íntegra.

Para começar compartilho a história de "RAFAEL" nome fictício, e que foi escolhido pelo seu significado que descreve exatamente a pessoa que escreveu este depoimento: nome de um anjo. Significa Deus cura e indica uma pessoa paciente e perseverante, que procura beneficiar os que precisam de ajuda.


Leiam com o CORAÇÃO  e com EMPATIA (colocando-se no lugar do outro)!!!!!!



"Responder às questões sobre a homossexualidade é fazer sempre eu me reportar a triste infância e adolescência. Onde eu considerava-me sempre menos que os outros, sempre o peixe fora d’água. O menino lindo que gosta de cozinhar, de comprar, de se vestir bem e detesta jogar futebol e brincar de carrinho. Destaque em notas, em sempre ser o melhor de sala de aula, elogiado por todos, amado pelos mais velhos, e ao mesmo tempo se sentir tão pequeno perto dos amigos. Sempre soube que tinha algo errado comigo. Me apaixonava por meninas lindas mas que nunca era correspondido, pois elas preferiam sempre o “pior da turma”. Aí, vinha sempre os questionamentos: “Por que ser o melhor” se não vale de nada?! E o tempo passou, só o travesseiro sabe quantas vezes chorei e pedia a Deus para tirar minha vida. (Hoje me arrependo!) Pensar que não era o filho perfeito e que não teria a família que a sociedade impõe, mesmo sendo honesto, formado, bem visto pela sociedade. Mas sempre sem a resposta para: “E a namorada?” Trauma dessa pergunta feita sem piedade por todos.
                Ouvir como um tiro dado pelos próprios pais palavras como: “esses viados”. Por conta disso desenvolvi uma úlcera nervosa que me faz lembrar, quando fico nervoso ou com medo, tudo o que passei.   Fui realmente aceitar que olhava diferente para os meninos, com 24 anos quando viajei e me dei a oportunidade de experimentar, um beijo de outro homem. Então queria mudar tudo, queria realmente isso.
                Quando minha família desconfiou foi onde desencadeou o meu quase suicídio. Não tive apoio, pelo contrário, meus pais queriam mudar de cidade e me fizeram prometer de joelhos depois de muito choro que eu não era gay e que apresentaria uma namorada. Foi o que fiz, namorei durante um ano até que não suportei mais não ser eu mesmo. Terminei o relacionamento. E viajava todos os meses para longe, para poder ter momentos de paz e ser eu mesmo. Poder sair sem me preocupar com os outros, ou com medo de contarem à minha família.
                Mas isso me levava a um quadro depressivo, pois eu montava personagens para me esconder. Inúmeras vezes tentei suicídio. Agradeço a Deus ter encontrado pessoas no caminho que me estenderam a mão, e me escutaram, me deram forças para suportar a pressão que a sociedade impõe. E o que mais doía era saber que em casa eu só tinha meu travesseiro para chorar e pensar, que eles tinham um filho com tantas qualidades, mas que de nada valia se ele era “viado”.
                Acredito que o trabalho de conscientização para a sociedade seja o melhor caminho, pois não desejo a ninguém o que passei. Ser diferente e não ter onde me apoiar ou com quem conversar. Quem sabe se trabalho tivesse ocorrido há 10 anos eu nem precisasse ter mudado de cidade, ter me afastado de quem eu amo para poder viver com tranquilidade e sem medos. Triste é ver ao retornar para a cidade e visitar meus pais, que a situação não mudou, e as palavras ofensivas para os “viados” continuam.
                E confesso que não tenho forças para imaginar que mesmo me sustentando, perderia o amor deles, ou escutaria palavras que me ferissem tanto que jamais conseguiria perdoar. Pois tenho certeza, afinal conheço minha família, que jamais seria diferente. Então permaneço no silêncio e na dor, orando para as famílias aceitarem seus filhos do jeito que são. E lembro sempre das palavras da minha eterna amiga: Empatia! Coloque-se no lugar do outro."