domingo, 3 de agosto de 2014

DEPOIMENTO EMOCIONANTE DE UMA MÃE!!!

Mãe sempre sabe? Este é o título de um livro da professora e pesquisadora Edith Modesto onde esclarece que a maioria dos pais não percebe que seus filhos são homossexuais e ao descobrirem passam por várias fases: de descoberta; perda; negação; atitudes de defesa; conformação e enfim a aceitação. Durante a descoberta enfrentam sentimentos como: frustração, tristeza, depressão, medo, dentre outros, e mostra que o importante é buscar informação e apoio, para que então haja o entendimento e aceitação de um filho que permanece sendo o mesmo de antes.
                                         “PÂMELA” (nome fictício)
            Meu filho tinha 19 anos, quando certa tarde me convidou para ‘caminhar’ com ele! Sempre fomos muito companheiros e este era um programa que fazíamos com frequência. Até então, meu filho, para mim, era um adolescente como outros tantos de sua idade. Nunca foi de ter um grande número de amigos, mas sempre contava com dois ou três que frequentavam a nossa casa. Lá pelos quinze anos, era o ‘beijoqueiro’ do Aparecida, e como toda boa mãe, quase me sentia ‘orgulhosa’ disto. Chegou a ter duas namoradinhas, tudo passageiro, cerca de dois ou três meses, cada uma. Eu chegava a notar que ele não se entusiasmava com nenhuma, mas pensava que, na verdade não estava ‘apaixonado’... Por este tempo, houve uma encrenca na escola. Teve uma excursão e voltou furioso, havia brigado com um colega que o chamara de ‘bicha’! Chegamos a ir na escola, ele estava muito indignado com a situação... Mas logo, tudo seguiu como sempre fora: era um adolescente expansivo em casa, amoroso, nunca teve qualquer trejeito que me desse qualquer indicativo de que teria uma orientação sexual diferente. Entrou cedo e bem qualificado na faculdade, era aplicado, e a única coisa que me preocupava um pouco, e que me parecia ‘diferente’ dos demais de sua idade, era sua falta de vontade de sair, ‘festiar’ como dizem os adolescentes – quase um isolamento social que ele mesmo se impunha. Nos finais de semana ficava em casa, adorava estar com a família, era muito ‘sossegado’!
 
             Então, ele me convidou para a tal ‘caminhada’: fomos, e lá pelo meio do caminho ele me falou que estava gostando de alguém. Fiquei super feliz, e disse quando é que ele iria me apresentar a ‘namorada’! E então ele me disse: - mãe, e se fosse um namorado!? Não sei exatamente dizer o que senti naquela hora: espanto, susto, medo??? Completamente surpresa perguntei se ele sabia exatamente o que estava querendo me dizer, quais seriam as implicações que teria, o quanto sofreria por conta de preconceitos, e também da própria exclusão que a sociedade impõe aos que fazem escolhas diferentes?! Ele me disse que não era uma escolha, mas que para ele não havia como ser diferente. Confesso que fiquei em choque por vários meses, não contei e não comentei com ninguém... eu precisava primeiro absorver para depois tentar auxiliar meu filho. Foram meses de silêncios e introspecção meus, com muitas conversas com meu filho. Perguntava e aconselhava a ele que se fosse possível ‘escolher’ isto ou fazer diferente, que ele tentasse... e ele me dizia que não era uma escolha... Após o primeiro período de choque, onde é claro, me preocupava com ele, mas me preocupava muito também com o que diriam os outros: os avós, a família, os amigos, etc., etc.,...Teve então, um segundo período, onde então, parei de me preocupar com os outros (e comigo?), e comecei a sofrer por conta do que ele sofreria. Percebi o quanto esta escolha o atingiria... Ele, cada vez mais quieto, menos amigos – a não ser dois ou três que frequentavam a casa há longo tempo, e também algumas amigas de longa data - não saía, não fazia festas, ficava em casa lendo, assistindo filmes, escrevendo, e estes eram seus ‘passatempos’ fora dos estudos. Continuava como sempre, querido, amoroso, excelente pessoa para se conviver e se conversar – ele tinha muito conhecimento e profundidade sobre o que falava – até por conta de seus próprios períodos de introspecção... Conversávamos muito nós dois, e eu várias vezes disse e reforcei: “se houver a mínima possibilidade de tu seres feliz de outra forma, tenta”! Estava muito preocupada com o isolamento que ele mesmo se impunha, e ele, na sua ‘calma tranquila’ me dizia: “ - mãe, já tentei!...”
Já haviam se passado quase três anos da nossa ‘conversa’... Eu ainda não havia comentado com ninguém, quando ele me disse que estava ‘amando’ – pela primeira vez. Via ele feliz, com ares que se vê no rosto de todos que amam e são correspondidos.
 

           Resolvi então, que era a hora de eu parar de fazer de conta que nada acontecia.... Se eu não acolhesse e não brigasse por ele, quem mais faria isto? Meu filho tinha (tem) todas, todas as qualidades que muitas mães fariam de tudo para verem nos seus: é respeitoso com todos, é tolerante, é amável com a família, é honesto, nunca teve nem próximo de drogas, bebidas ou qualquer outro vício, estuda, trabalha, é extremamente competente, adora os irmãos, é, enfim, uma PESSOA, com todas as qualidades que eu sonhei para ele... qual seria o motivo que faria deixar de brigar pela sua felicidade?
Durante a minha adolescência tive um grande amigo que era homossexual e a quem eu queria muito bem. Nunca tive nenhum preconceito em relação a ele e na nossa turma da época, enquanto amigo, era muito bem querido. Porém, quando foi com meu filho, inicialmente, agi com todo o medo de alguém que teme o preconceito.... por ele, e egoisticamente, por mim também. Até o momento que resolvi acolher a ele – e ao seu amado, cujo pai não aceitava de modo algum, e cuja mãe se escondia atrás de outros problemas, escanteando o rapaz... Via o quanto aquela pessoa sofria e todas as dificuldades que passava por conta do isolamento familiar. Resolvi, então lutar pela aceitação incondicional do meu filho amado.
Na família, com os amigos, conhecidos, no trabalho... nunca dei explicações a ninguém! Passamos a viver como vivem todos os outros, e o companheiro de meu filho nos acompanhando como acompanha o namorado de minha filha: sem tratamento diferentes.... sem explicações... Quando se apresenta o namorado da filha, ninguém dá explicação por ser ‘namorado’. Então, também não dou.
Assim, os que realmente importam nunca questionaram.. e como aceitei, todos que realmente importam, aceitaram... Alguns – pena, e pena mesmo, se afastaram... mas que fazer com a ‘grandeza interior” de cada um... o crescimento da pessoa é individual, então, quem, por qualquer motivo, se sentir “atingido” pela circunstância da homosexualidade (que, afinal, é íntima, e diz respeito somente às duas pessoas que assim de relacionam) simplesmente se afasta.
             
             E é assim.... nos questionamos o quanto de “gente”, de “pessoa” tem em cada um de nós? E a aceitação dos outros, com todas as diferenças que possua, e com todos os defeitos e virtudes que alcançam seu crescimento atual dentro da escala evolutiva humana – é que nos faz sermos mais ou menos tolerantes.
Meu conselho para pais que se veem na situação vivida por mim é que abracem seu filho. Não é isto que ninguém sonha e espera.... Mas enxerguem quem ele verdadeiramente é, a pessoa que ele é, porque, afinal, é isto que importa nesta vida..... as preocupações: se sofrerá preconceitos e intolerâncias por parte de alguns? Sim, sofrerá. Infelizmente, sofrerá, o que é pena.... pena dos que ainda passam por estes sentimentos menores. Não se deixem atingir por um fato que dirá respeito íntimo à pessoa de seu filho e aquele com quem ele se relacionará. Abracem e acolham a ele, para que não se perca, porque infelizmente é isto que se tem ouvido falar por aí: quantos adolescentes e mesmo adultos não terminam nunca com esta crise de aceitação, identidade, etc.. De quantos vocês já ouviram falar? Se vocês, que amam de todo o coração, e que sofrem só de pensar que seu filho possa sofrer – não o acolherem e não o aceitarem, quem o fará? 

              Sejam vocês os pilares de amor e aceitação, porque, afinal, pela intolerância e preconceito decorrente da homossexualidade ninguém será mais atingido que ele.